Ajuda Providencial
Aquela era uma noite como outra qualquer para aquele moço cego que
voltava para casa pelo mesmo roteiro de sempre, há três anos. Ele seguia
tateando com sua bengala para identificar os acidentes do caminho, que
eram seus pontos de referência, como todo deficiente visual.
Mas, naquela noite, uma mudança significativa havia acontecido no seu
caminho: um pequeno arbusto, que lhe servia de ponto de referência e
estava ali pela manhã, fora arrancado.
A rua estava deserta e ele não conseguia mais encontrar o rumo de casa.
Andou por algum tempo, e percebeu que havia se afastado bastante da sua
rota, pois verificou que estava numa ponte sobre o rio que separa a sua
cidade da cidade vizinha.
Era preciso encontrar o caminho de volta. Mas como, sem o auxílio da
visão? Começou a tatear com sua bengala, quando uma voz trêmula de
mulher lhe indagou:
- O senhor está encontrando alguma dificuldade?
- Acho que me perdi, respondeu o rapaz.
- Foi o que pensei, comentou a mulher.
- Quer que o acompanhe a algum lugar?
O rapaz lhe deu o endereço e ela, oferecendo-lhe o braço, o conduziu até
à porta de casa.
- Não sei como lhe agradecer, falou o moço.
- Eu é que lhe devo um sincero agradecimento, respondeu ela, já com
voz firme.
- Não compreendo, retrucou o rapaz.
E a jovem senhora então explicou:
- Há uma semana meu marido me abandonou. Eu estava naquela ponte
para me suicidar, pois geralmente àquela hora está deserta. Aí encontrei o
senhor tateando sem rumo e mudei de idéia.
A mulher disse boa noite, agradeceu mais uma vez, e desapareceu na rua
deserta.
Também, em nossas vidas, talvez tenhamos passado por experiências
semelhantes à das personagens dessa história. Quantas vezes já não
sentimos vontade de sumir, de pôr um fim ao sofrimento que nos visita e
um braço amigo nos sustentou antes da queda.
Ou, quiçá, já tenhamos nos sentido perdido, sem rumo, sem esperança, e
uma voz se fez ouvir e nos indicou uma saída. Quem já não se sentiu numa
situação assim, vivendo ora como o socorro que chega, ora como o
socorrido?
Tudo isso nos dá a certeza de que nunca estamos sós.
Alguém invisível vela por nós e nos oferece um braço amigo nas horas de
desespero. Ou, então, inspira-nos a oferecer nosso apoio a alguém que está
à beira do abismo.